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segunda-feira, 28 de agosto de 2017




A produção de palma na Paraíba foi abundante e desordenada por muitos anos. Até que as plantações foram afetadas por uma praga e pela seca. Mas a adversidade ensinou os produtores a plantarem com mais critério para, aos poucos, cultivarem palmas com mais qualidade.

Para o assessor da Presidência da Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba (Faepa-PB), Domingos Lélis, a cultura, que é considerada o melhor produto a ser cultivado em terras paraibanas, foi dizimada no estado no início da década. “Parece que soltaram uma bomba atômica”, compara.

O produtor de leite Januário Marinho, que mora na zona rural de Soledade, planta palma para alimentar suas 20 reses de gado e herdou a atividade do pai. Segundo ele, o ciclo de plantio foi interrompido pela cochonilha do carmim, que destruiu toda a palma gigante da região, em 2010.

Inseto exótico veio do México

A cochonilha é um pulgão que produz corante natural e foi trazido do México para o Brasil por pesquisadores de Pernambuco, que procuravam uma fonte de renda extra para os produtores de palma, conforme explicou Lélis. Porém, o inseto trazido só produzia 10% do que era esperado e não serviu para o objetivo dos pesquisadores.

Com a pesquisa abandonada e sem um inimigo natural, o pulgão exótico começou a se espalhar e a destruir as plantações de palma que existiam por perto, sempre avançando por onde conseguia. A cochonilha do carmim chegou à Paraíba por Monteiro, no Cariri.

“Os produtores não estavam preparados para isso. O cara tinha a palma dele e plantava em áreas grandes, 30, 50 hectares. Plantava e deixava lá, para se tivesse necessidade um dia. Com essas florestas de palmas, a cochonilha chegou e se deparou com aquele habitat maravilhoso”, explicou Lélis.

Com palmas altas e sem espaçamento satisfatório entre elas, os produtores não conseguiam entrar na plantação para combater a praga. Mesmo com algumas tentativas de conter a cochonilha, ela sempre voltava.

Produção reduzida a 10%

Segundo dados da Faepa, até 2010, a Paraíba tinha cerca de 160 mil hectares de plantações de palma. Com a atuação da cochonilha do carmim, a partir de 2010, e a estiagem, que teve início em 2011, a estimativa é que hoje esse número não chegue nem a 16 mil hectares.

“Tínhamos 160 mil hectares da palma gigante na Paraíba, que é a melhor palma que tem, mas ela é altamente suscetível ao inseto. A cochonilha vai sempre ser um problema. Quando um inseto entra no país, não dá para eliminar, tem que conviver com ele”, comentou o técnico da Federação.

Além da praga, os palmais da Paraíba também sofreram com a estiagem prolongada, de cerca de seis anos, mesmo sendo uma cultura essencialmente resistente à seca. “Quando a gente começou a introduzir outra variedade, veio o ciclo da estiagem, que foi cruel. Não deu pra que a gente pudesse aumentar a palma, ver a adaptação dela com melhor qualidade na região, devido ao grande ciclo de seca. Foi avassaladora, desgastante”, relatou Januário.

Espécie precisa de chuva, mesmo que pouca

Para Januário, a situação ainda não é a ideal, mas, plantando espécies resistentes, como a orelha de elefante e a mão de moça, ainda há fé de que o cenário melhore. “No momento, a gente ainda está na fase que ainda não demos tudo que tínhamos pra dar porque realmente houve a seca e a palma não desenvolveu a contento. A gente tá tendo que aumentar a área, mas dá, se tiver regulares índices pluviométricos [de chuva]. Teve chuva pouca. Mas no caminho que a gente vinha, a produção já estava no limite de suportar”, contou o produtor.

Lélis explica que a palma é uma alternativa para as regiões onde há pouca precipitação, mas que ela necessita de água, ainda que pouca. “O cariri é a região que menos chove e a palma ainda resiste por conta da amplitude térmica, que é grande, e gera muito orvalho. Mas eu não vou dizer que a palma aguenta a vida inteira sem água”, reconhece.

Para Lélis, a Paraíba teria que lutar muito para voltar a ter os 160 mil hectares de palma que tinha em 2010. Porém, com técnicas de plantio correto, o estado nem precisa disso tudo para conseguir dar conta de alimentar seu gado. “Se você tiver metade disso, mas bem feito, plantado de forma tecnicamente correta, vai ter um volume maior de produção”, assegurou.

Novas espécies são mais resistentes

Com a dizimação da palma gigante, os produtores tiveram que introduzir variedades resistentes à cochonilha. No Agreste e na Mata Paraibana, regiões onde chove mais, é mais usada a palma doce. No Cariri, que fica no semiárido, os produtores passaram a cultivar a orelha de elefante e a mão de moça, todas resistentes à praga.

Em 2006, o Serviço Nacional de Aprendizagem (Senar) na Paraíba começou um programa para ensinar os produtores a plantar a palma da forma correta. Antes, a palma era plantada de forma indiscriminada. Agora, os produtores aprenderam a plantar a cultura com 1,8 metro de distância entre as fileiras, para facilitar o combate a pragas, caso elas apare.

Com esse cultivo mais organizado, Lélis explica que os agricultores conseguem produzir mais em menos espaço e tempo. “Antes, eram produzidas 70 toneladas por hectare, a cada 3 ou 4 anos. Agora, com 2 anos ou até 18 meses, eles já começam a produzir 400 ou 500 toneladas por hectare”, informou.

Krystine Carneiro, G1 PB

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